domingo, 13 de novembro de 2016

Vencedor




Vencedor.
Vencedor é uma palavra que, em nossa sociedade, remete aquele indivíduo que sobressaiu-se diante das dificuldades da vida. Vencedor é um ser humano dotado de resiliência em face da dureza e da indiferença da existência dos vivos. O vencedor é um destaque, um exemplo a ser seguido, um estabelecedor de parâmetros para os demais e uma pessoa fora do comum.
Será mesmo? O vencedor é mesmo um ser extraordinário?

Dentro de nosso modo de vida capitalista não há espaço para todos na divisão do que é produzido. A grande concentração de poder nas mãos de uma minoria enquanto, na outra "ponta" da sociedade, a maioria depende de migalhas, é a fotografia de nosso tempo (talvez seja o quadro eterno da história humana), onde todo aquele, que está na ponta empobrecida, ultrapassa a linha de sua "classe" e alcança o panteão da ponta contrária é logo aclamado herói. Sim as vezes os heróis são os menos prováveis, não tem superpoderes e fazem coisas extraordinárias. Bem, ao menos são consideradas extraordinárias para aqueles que acompanham sua trajetória e, tão logo veem sua vitória, erguem-no em seus ombros e conclamam seu heroísmo. Então ser este "alpinista social" é um verdadeiro ato de coragem, raça e força de vontade.
Excelente!!!! Sensacional!!!! Estupendo!!!!






Este mesmo sistema capitalista, que ergue heróis improváveis, é o mesmo que oprime, debilita, estrangula, humilha e denigre milhões de outros indivíduos que nunca serão heróis. Isso é preguiça destas pessoas? Basta que tenham uma oportunidade? Seu ambiente não é propício?
Não. É muito mais que isso.
Nosso capitalismo nos convence de que há pessoas presas em situações ruins mas, que é por sua culpa, por sua preguiça, por sua inércia, por sua vontade ou qualquer outro motivo imbecil, do qual não fazemos qualquer reflexão. Daí criamos nossa apatia, ou mesmo antipatia, de tais pessoas, rotulando-as conforme nosso preconceito sociocapitalista. Passamos, desta maneira, a valorizar os heróis, que escalaram do poço pútrido da pobreza, em direção ao fantástico mundo encantado da fama e fortuna, enquanto desprezamos e bestializamos aqueles que ficam pelo caminho. O mendigo da praça, o menino no semáforo, os idosos do asilo, os moradores da favela, meu parente mais ignorante; tanta gente inútil e que parece só estar por aí, ocupando espaço e enfeiando a paisagem. Jogadores de futebol, músicos, atores, políticos, reis, princesas; tantas pessoas pomposas e "importantes" que, por seu glamour e riqueza, são adoradas e amadas por todos nós, estúpidos admiradores daquilo que não temos e, vê-se a ironia, não adicionam nada, de fato, a nossas míseras vidas vazias.






Gastamos nosso tempo, que a maioria de nós não percebe ser curto, em coisas tão inúteis e em idéias tão estúpidas, que nossas cabecinhas ocas conseguem desviar o olhar, de quem precisa ser amparado, para a apreciação de quem não precisa de nada pois, do ponto de vista do capitalismo, já conseguiu tudo.
Vivemos ao contrário, adorando os ricos e desprezando os pobres quando, em uma lógica de simples compreensão, deveríamos ajudar os pobres e mudar a política que transforma os ricos em semideuses.

Deveríamos pensar mais individualmente, não na individualidade. Como assim? Pensar individualmente, afastando a ideia de pensamento em "boiada", que segue as ordens do boiadeiro, permite que percebamos que todos necessitamos ser libertos da pobreza no pensamento, que assola nosso tempo. Enquanto pensar na individualidade vai fazer de nós apenas uma coisa:
O vencedor.
Um ser individual que buscou, apenas para sí, os bens, serviços e benefícios do capitalismo.
Precisamos de equipes vencedoras, países vencedores, continentes vencedores e um planeta humano de vencedores e não de vencedores individuais. Precisamos nos preocupar com todos, e parar de erguer nos ombros aqueles que usam nossas forças para tornarem-se heróis vazios e inúteis.
Só viveremos melhor quando todos, enquanto espécie, pudermos ser todos, excepcionalmente todos, vitoriosos.

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