sexta-feira, 4 de agosto de 2017

O Muro do Mundo Moderno




Todos sabemos o quê é um muro, não é? Erguido verticalmente para delimitar um ou mais espaços, definindo onde termina e onde começa um determinado "pedaço" de lugar.
Todos também conhecemos muros que tornaram-se célebres por sua importância histórico-cultural ou papel social. A grande muralha da China, construída entre 220 e 206 a. C. , para defender aquele país de invasores. Ou, em um passado mais próximo, o muro da cidade alemã de Berlim que dividiu aquele país europeu em duas "facções" distintas que "apoiavam" ideologias sociais diferentes. Até que no início dos anos 1990, após a varredura do socialismo alemão, o muro caiu devolvendo a Alemanha a seu povo.
Muros. Muros dividem. Muros delimitam. Muros separam. Muros definem. Muros.
Mas para que muros existam são necessários materiais:
Tijolos, areia e cimento. Com os materiais em mãos podemos erguer o muro à nossa vontade e prazer.
Aprendido, ou relembrado, o que é e como se faz um muro, passemos à loucura filosófica.





Vivemos em uma sociedade que preza pela educação condicionada. É necessária uma maneira de pensar, uma maneira de fazer, uma maneira construir, uma maneira de ensinar, uma tabela a se seguir onde, inadvertidamente, tudo o que for diferente desta(s) maneira(s) é inútil e não possui validade. Um sistema viciado e atrasado, permeado de maneiras de conceber a realidade que destoa com o que de fato vê-se no cotidiano. Como em um conto de fadas onde, após o final feliz, a rotina destrói o "felizes para sempre".
Pesando estes "moldes" de pensamento, encontramos o peso do pré concebido, onde tornamo-nos em conceitos de nosso meio, cheios de conhecimentos inflexíveis e pautados na mesmice do pensar igual, ou ser igual. Reagindo como seres inanimados, além de sem opinião, diante dos fatos mundanos, apontando apenas nosso tijolo de conhecimento. Ora, sofreriam os filósofos, como Sócrates ou Aristóteles, se vissem o desígnio de suas vidas esparramado por tijolos em um muro de preguiça e conformismo. Sim, por quê, tal qual outras ciências, acabamos por dividir a filosofia em tijolos de saber e, conforme escolhemos (ou somos escolhidos), somos assentados na massa posta no tijolo de baixo, enquanto esperamos nossa vez de receber a massa, para que venha o tijolo de cima.





Como se fossemos o muro seguimos, cada um com sua "tijolice", dando opiniões pré definidas, sem que possamos acrescentar nada de útil ao todo. Toda vez que ouvimos de um médico: "não é nada! Só uma virose." E depois nos vemos internados, fomos vítimas da tijolice. Sempre vemos um operador do direito indiferente a uma proposta filosófica, relacionada à sua ciência, vemos uma tijolice. E assim, com certa multiplicidade, vemos tijolices aos montes aqui e acolá, como se nossas universidades fossem apenas uma linha de montagem, fazendo tijolos e nosso sistema político como o pedreiro que, utilizando a massa de cimento e areia, vai erguendo o muro com os tijolos, incipientes, recém saídos do forno.
Luiz Felipe Pondé (foto reprodução) destaca que é possível (e ainda bem que é) ser filósofo sem ter passado pela universidade. Desde que haja uma certa organização, um certo respeito e um certo entendimento com a estrutura da filosofia. Enquanto a faculdade pode transformar o estudante de filosofia em um especialista, capaz de exprimir os conceitos de determinados autores, filósofos ou épocas. Ficando facultado àquele que dispensou a cátedra a liberdade, se não a responsabilidade, de ser mais que o tijolo do muro. Pois este está livre das "amarras" do especialista que, embora seja inteligente e altamente capaz, está preso ao ritmo da tijolice; fiel reprodutor de conhecimentos, mas, em contrapartida, preso ao mesmo da repetição. Já aquele que não tornou-se tijolo, abre-se para que a visão do passado, não necessariamente prenda o pensamento na mesma épico, mas que conjugue-se com o presente, apontando para a mudança sempre presente. Há quem pense que isso é maluquice, mas até isso é comum, quando lembra-se que, em maioria, a crítica surge do muro, com sua limitação e visão de apenas um ponto de especialidade.

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